O flamenguismo surgiu em 1936, tendo como principal canal o consórcio que comprou o Jornal dos Sports, reunindo Mario Filho, Roberto Marinho e José Bastos Padilha (então presidente do Flamengo), tendo como aliado Arnaldo Guinle. De lá para cá, com objetivo de competir com a força do Vasco, não faltaram manchetes, narrativas falsas e exaltação aos rubro-negros, que nos anos 20, 30, 40 e 50 estavam atrás do Vasco em número de torcedores, associados, patrimônio, títulos e tradição.
Por Leandro Fontes*
Todavia, mais de trinta anos de massificação midiática (pelo Cor de Rosa, O Globo, José Lins do Rego e Ary Barroso na rádio), travestiu um clube de elite e racista no seu DNA, no seu oposto. Imagem que foi acentuada com a difusão da TV Globo durante a Ditadura Militar. A geração Zico, portanto, consolidou uma construção anterior que pouco tinha liga com grandes conquistas (nacional e internacional) e feitos históricos.
Quer dizer, o Flamengo avesso a Resposta Histórica de 1924, não detinha força associativa e mobilização da sua torcida para construir um Estádio digno de nota. Ao mesmo tempo, com exceção dos tricampeonatos dos anos 1940 (com Leônidas, Fausto e Domingos, que jogaram no Vasco anteriormente) e 1950, não teve conquistas em torneios internacionais que pudessem projetar além-mar sua marca, algo somente alcançado em 1981.
De tal modo, tendo a trajetória do Vasco como objeto comparativo, é possível perceber que o clube de São Januário construiu e nacionalizou sua torcida a partir de feitos históricos e grandes êxitos desportivos, tendo o avassalador Expresso da Vitória como símbolo maior da força nacional e internacional do Vasco. Já o clube da Gávea, a partir da segunda metade dos anos 1930, combinou seu desempenho desportivo regional com um projeto de marketing, amplamente difundido pelos canais hegemônicos da mídia esportiva carioca da época. Mesmo assim, o Vasco teve hegemonia de torcedores até, pelo menos, a passagem dos anos 1950 para 1960, conforme comprova a pesquisa que gestou a obra Vasco: o clube do povo – uma polêmica com o flamenguismo (1923-1958).
É preciso avançar em novas pesquisas para alcançar uma resposta aceitável do momento de passagem dos rubro-negros, em número de torcedores, sobre o acúmulo do Vasco (sem simpatia midiática). O fato é que no período da redemocratização do Brasil o Flamengo possuía uma vantagem numérica inegável sob a torcida Almirante. Embora, na disputa direta no “Clássico dos Milhões”, o Vasco tenha “dividido a pelota” nos anos 80 e dominado os anos 90. No entanto, nos últimos quinze anos o Flamengo ascendeu e o Vasco atravessa sua pior crise desde a sua fundação.
Contudo, se mantivermos o método comparativo, veremos que o Flamengo quase fechou suas portas no início dos anos 30. Paralelamente, o Vasco era uma potência. Evidente que tudo, ou melhor, quase tudo, é diferente no momento. Mas, a torcida do Vasco segue nacionalmente forte e pujante, sem perder sua característica inigualável: de torcida comprovadamente mais fiel ao seu clube. Talvez por isso, o flamenguismo volta a utilizar sua velha estratégia, propagando pela positiva a simbologia do clube da Gávea na novela das sete da Rede Globo. Sabe-se que “Neném”, personagem de Vladimir Brichta em “Quanto mais vida, melhor”, não é o primeiro e tampouco será o último personagem que a resultante é expressão condensada da propaganda flamenguista para milhões de brasileiros em rede nacional. Por isso, a frase do saudoso Hebert de Souza segue viva: “existe uma forma de se fazer História; e outra, de se contar a História”. Essa é a essência da diferença entre Vasco e Flamengo. Todavia, a inenarrável torcida cruzmaltina atua espontaneamente, dia e noite, dentro e fora dos estádios, para resgatar a “etiqueta” surrupiada pelo flamenguismo.
Vasco, clube do povo, clube que não tem dono.
* Sócio-proprietário do Vasco e autor da obra Vasco: o Clube do Povo – uma Polêmica com o flamenguismo (1923-1958)
O meu grande Vasco, nunca foi marqueteiro, sempre será um time que sempre usou a arte de jogar futebol, e se tornou um gigante, uma potência de terra e mar. Contrui sua “casa própria “, que o Flamengo pedia para alugar, e quando isso acontecia, deixa seu rastro de destruição, pondo pra fora toda sua frustração!
Texto irretocável. Orgulhoso de ser teu amigo e de tê-lo encaminhado em sua primeira publicação.
Agradeço a generosidade Mesquita e a honra é minha por contar com sua amizade e parceria.
Muito bom e coerente o texto. Se formos usar termos de MKT, diríamos que o urubu na década de 30 reposicionou sua marca no mercado, através, principalmente do apoio da mídia, saindo de um clube de elite, com sede na Zona Sul do Rio, para “ser vendido” como um clube popular e o único que poderia combater os “galegos” e seus operários.
Se bobear temos a maior torcida do Brasil, não confio nessas pesquisas que nos colocam como quinto colocado. A torcida do rival mulambo por exemplo é modinha e não entende de futebol…
Perfeito. É exatamente isso. Enquanto o Vasco é um Clube nascido do gosto popular o urubu é fabricado, nascido de proveta. Por isso nem comparação possui porque tudo na vida do urubu é arranjado (coloque-se aí 90% das conquistas), é falso, é aparente. No urubu não existe essência, profundidade, alicerce. É só aparência. Já o Vasco é sangue, raça, amor, devoção na base do natural, do espontâneo. O Vasco é raiz.
Excelente texto. Didático e com conteúdo. Um FAZ a História; o outro conta História. Narrativas repetidas por todos os meios midiáticos, causando efeito MANADA, criando artificialmente uma Torcida imensa. Novelas desde 1969. Vale lembrar que aquela Libertadores foi Fake, desligitimando o titulo Intercontinental. Não será possível criarem pseudo verdades eternamente.
Textaço! Ótima percepção sobre o que aconteceu no passado e o que vem acontecendo até hoje.
Seguimos na trincheira Maganha. Vamos juntos!