O homem só
Existia um homem só
Cuja solidão, cultivada,
Crescia dia a dia
Silenciosa, calada
O homem só, das emoções que sentia
Amava mais a solidão
E de todas as alegrias
Dava preferência à melancolia
De uma noite só e vazia
Olhava as estrelas – companheiras
Contemplava a lua minguante – amante
Objetos da casa, móveis velhos e decadentes
– parentes
As personagens de carne e osso
Desse drama vagabundo
Viviam todas ao seu redor
Sem fazer parte do seu mundo
Mas a simples sombra
De suas invisíveis presenças
Bastava para tirá-lo do sério
Gritos, Choros, Desavenças!
E cada vez crescia mais
E tomava conta do coitado
Certo ar de loucura
Um comportamento alucinado
A tudo estranhava
Eternamente isolado
Como uma doença voraz
A solidão parasitária
Sugou de sua pobre vítima
Toda cor da alma vária
Então, outrora orgulhoso
Quedou-se feito uma besta
Diante da dor e da morte
Só lhe restava a auto piedade
E sem dignidade enfrentou sua sorte
Que infelizmente foi a pior
Que o seu tipo conhece
Cercado de gente
Corroído da peste
À sorrelfa, maldições sussurradas
Saíam das bocas das personagens
desprezadas:
“Morre logo vagabundo!”
“Morre sem deixar choro ou saudade”
“Morre e faz um favor a ti mesmo”
“E ao resto da humanidade”
“Morto, terá por esposa a solidão que tanto amaste”
“Morre que tua morte será um bálsamo para os seus”
“E na tua face gelada receberá, indiferente”
“Nossos falsos beijos de adeus”
Por Wevergton Brito Lima