Poesias para dias nublados II

O homem só

 

Existia um homem só

Cuja solidão, cultivada,

Crescia dia a dia

Silenciosa, calada

 

O homem só, das emoções que sentia

Amava mais a solidão

E de todas as alegrias

Dava preferência à melancolia

De uma noite só e vazia

 

Olhava as estrelas – companheiras

Contemplava a lua minguante – amante

Objetos da casa, móveis velhos e decadentes

– parentes

 

As personagens de carne e osso

Desse drama vagabundo

Viviam todas ao seu redor

Sem fazer parte do seu mundo

Mas a simples sombra

De suas invisíveis presenças

Bastava para tirá-lo do sério

Gritos, Choros, Desavenças!

 

E cada vez crescia mais

E tomava conta do coitado

Certo ar de loucura

Um comportamento alucinado

A tudo estranhava

Eternamente isolado

 

Como uma doença voraz

A solidão parasitária

Sugou de sua pobre vítima

Toda cor da alma vária

 

Então, outrora orgulhoso

Quedou-se feito uma besta

Diante da dor e da morte

 

Só lhe restava a auto piedade

E sem dignidade enfrentou sua sorte

Que infelizmente foi a pior

Que o seu tipo conhece

Cercado de gente

Corroído da peste

 

À sorrelfa, maldições sussurradas

Saíam das bocas das personagens

desprezadas:

 

“Morre logo vagabundo!”

“Morre sem deixar choro ou saudade”

“Morre e faz um favor a ti mesmo”

“E ao resto da humanidade”

 

“Morto, terá por esposa a solidão que tanto amaste”

“Morre que tua morte será um bálsamo para os seus”

“E na tua face gelada receberá, indiferente”

“Nossos falsos beijos de adeus”

 

Por Wevergton Brito Lima

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