A ação de despejo contra a 777 Partners e duas perguntas no ar

Fotomontagem feita pelo site OffshoreAlert

O site OffshoreAlert, um boletim eletrônico sobre finanças internacionais, publicou nesta segunda-feira (30) uma notícia dando conta de que “o proprietário de um prestigiado arranha-céu de escritórios de 40 andares no centro de Miami entrou com uma ação legal para despejar a empresa de investimento privado 777 Partners de seu espaço de escritórios de 25.138 pés quadrados no 19º andar, que serve como sede do grupo, por não-pagamento do aluguel de US$ 76.000 por mês”.

Por Wevergton Brito Lima*

Essa notícia, que joga a pá de cal que faltava na empresa para a qual o Vasco foi doado por Jorge Salgado, Osório e Duque Estrada (entre outros), deixa no ar duas questões principais.  

E ninguém vai preso?

O Vasco foi “vendido” em agosto de 2022, embalado na promessa de Salgado/Osório/Duque Estrada de que a 777 Partners era uma empresa bilionária, sólida e com grande capacidade administrativa, que iria fazer o Vasco retomar aos píncaros da glória.

Passados menos de 24 meses de sucessivos vexames esportivos, a 777 Partners está em situação falimentar e agora sofre processo de despejo de sua sede.

Como saldo para o Vasco ficaram dívidas acumuladas e o custo do adiantamento recebido pela 777 Partners de 50 ANOS (isso mesmo que o leitor leu, 50 anos!) de 20% dos direitos televisivos do time cruzmaltino. Tudo isso passará em brancas nuvens?

Para que o leitor tenha uma ideia do tamanho do buraco, foi prometido que a 777 Partners assumiria a dívida vascaína. Mentira. As dívidas continuam no CNPJ do CRVG, que aderiu ao Regime Centralizado de Execuções (RCE) em setembro de 2021 (portanto, bem antes de virar SAF). A adesão ao RCE evita penhoras nas contas do clube por dívidas desde que a instituição deposite um determinado percentual mensal para abatê-las. No entanto, a lei exige que em 6 anos a dívida tenha sido diminuída em 60%. O Vasco vai completar três anos de RCE e abateu apenas 15%.

Ou seja, realmente, parece uma piada de português: O Clube vende seu principal ativo, o futebol e está financeiramente pior do que antes.

O estrago só não foi maior porque a atual diretoria vascaína, liderada pelo presidente Pedro Paulo (chamado de Pedrinho quando jogador) teve a feliz iniciativa de buscar suspender na justiça o contrato com a 777 Partners, evitando assim que o Vasco estivesse na triste posição de parte de uma massa falida.

Porém, a situação do Clube pós-venda é tão preocupante que estamos exatamente com três meses e um dia de atraso do prazo legal para apresentação do balanço financeiro de 2023 do CRVG que deveria ter sido publicado no dia 30 de abril, atraso que, por lei, pode acarretar perigosas consequências. A diretoria debate-se entre o dilema de enfrentar essas consequências ou expor ao público que o Vasco está com sérias dificuldades financeiras.

Mas nem tudo foi tragédia nessa história. Alguns felizardos embolsaram pela venda do Almirante R$ 28 milhões de comissão.

Quem recebeu? Ninguém sabe, o contrato de venda é secreto, senhores e assim permanece.

Isso para não falar das vultosas somas pagas para diversas “consultorias”, premiadas por conduzirem o Vasco ao precipício.

Uma dessa “consultorias” foi prestada por uma empresa de advocacia, fundada pouco antes da venda, que agora cobra do Clube a quantia de R$ 13,5 milhões por ter feito um parecer “blindando” este excelente negócio que foi entregar o futebol do Vasco para uma empresa de picaretas.

Em qualquer lugar do mundo, os responsáveis por esses descalabros estariam sendo minuciosamente investigados.

Onde está o operoso Ministério Público do Rio de Janeiro, que em tempos passados cobrava do Vasco até demonstrativo de borderô da bilheteria? Entrou em férias permanentes? No Rio Grande do Sul o Ministério Público desencadeou em 2018 a operação “Rebote”. Como resultado das investigações da operação, em março último a justiça gaúcha condenou o ex-presidente do Inter, Vitorifo Piffero, e o ex-vice de Finanças, Pedro Affatato, e mais três pessoas à prisão por um esquema de desvio de recursos do clube.

Piffero foi condenado, por exemplo, a 10 anos e seis meses de cadeia em regime fechado e está recorrendo em liberdade, assim como os demais citados. Registre-se que a operação “Rebote” foi iniciada tendo por base decisões do Conselho Fiscal do Internacional.

No Vasco, esta esperança é vã. O atual Conselho Deliberativo vascaíno (assim como a atual diretoria) é formado, em sua maioria, por pessoas que apoiaram entusiasticamente a venda.

Para salvar as aparências, montaram uma “Comissão de Investigação”, que por sua composição está sendo chamada de “Comissão Mister Pizza”, destinada a jogar a culpa da maracutaia apenas em manjadas “consultorias” que receberam milionários pagamentos para corroborar o que os vendedores do Vasco diziam sobre o comprador do Vasco.

Segunda pergunta: e o papel da mídia esportiva?

Ninguém vai falar da mídia esportiva comercial e – com raríssimas exceções – seu “silêncio ensurdecedor” sobre a 777 Partners, durante o processo de venda?

Como é possível que minúsculos canais de Youtube, com reduzido alcance e menor ainda poder de mobilizar recursos humanos e materiais, tenham desde o início revelado com dados e fatos que a 777 Partners era uma furada monumental, enquanto gigantescas corporações de comunicação ocultavam informações facilmente acessíveis sobre a empresa?

Escrevi “silêncio ensurdecedor” mas em alguns casos foi bem mais do que isso, foi propaganda ostensiva em favor da venda do futebol vascaíno para a 777 Partners.

O crime cometido contra o Vasco, que poderia tê-lo conduzido ao fim de sua gloriosa história, deve ser elucidado em todos os seus ângulos, incluindo o papel da mídia, que já começa, em alguns setores, a exigir nova venda do Vasco pois o modelo associativo seria “arcaico”. De fato, “moderno” é o que a aconteceu com o Bordeux, hexacampeão francês, controlado por “modernos” fundos de investimento, que controlavam uma “moderna” rede multi-clube e que acaba de anunciar o fim de seu arcaico futebol profissional.

De fato, enterrar o caso “777 Parteners – Vasco” sob uma montanha de indiferença e cumplicidade só servirá para que a história se repita, com novos atores, novos argumentos e comissões ainda maiores.

* Jornalista, sócio remido do Club de Regatas Vasco da Gama

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