Foi linda, para variar, a festa da torcida do Vasco em Brasília. A recepção na chegada do time ao aeroporto e depois o apoio incessante no estádio, faria um desavisado pensar que o Vasco iria disputar a final de um título de peso. Qual nada, era apenas a 7ª rodada do campeonato carioca, onde o Vasco está em 6º lugar, posição em que permanece mesmo após a vitória por 2 x 0 contra o Nova Iguaçu (temos um jogo a menos que Bangu, Volta Redonda e Fluminense).
E agora, nesta quarta-feira (8), vem a notícia de que os ingressos destinados à torcida vascaína para o Fluminense e Vasco do próximo domingo já estão esgotados.
Não é de hoje que penso com meus botões que o Vasco seria imbatível se a paixão da torcida se transformasse em amor.
A tentativa de explicar a diferença entre paixão e amor rendeu, desde tempos antigos, milhões de páginas escritas.
Não é uma discussão simples, pelo contrário. Começa que para delimitar as diferenças entre paixão e amor é preciso primeiro tentar definir o que representa, exatamente, cada um destes complexos sentimentos.
Quase quatrocentos anos AEC (Antes da Era Comum) Platão escrevia “O Banquete”, livro no qual narra a disputa entre comensais (entre eles Sócrates) que tentam definir o amor, sem chegar a um acordo entre si.
Particularmente gosto mais da parte em que Pausânias adverte que não existe apenas uma forma de amor. Simplificando o argumento de Pausânias, ele diz que existe um amor carnal e outro mais elevado, espiritual e perene. Seria, afinal, este primeiro tipo de amor descrito por Pausânias, paixão?
Deixando de lado estas divagações e disputas filosóficas, o senso comum dos nossos dias resolve a questão da diferença entre paixão e amor da seguinte forma: paixão é um sentimento muito intenso, chegando a ser violento, entretanto pode acabar repentinamente pois seria superficial, enquanto o amor, que nasce muitas vezes – segundo esse senso comum – da paixão, é mais profundo e constante.
Sem necessariamente renunciar à paixão sensual, o amor a transcende, vai além da pele. Você ama e acaba compartilhando com o objeto do seu amor, os valores e a essência que ele tem.
O amor criaria, desta forma, raízes mais profundas com o ser amado. Preocupa-se com o bem-estar do que ama não apenas imediatamente, e sim a longo prazo, pois não se consegue enxergar um futuro, qualquer futuro, se nele o seu amor não estiver também feliz e seguro.
Sobre isso, por sinal, Voltaire afirma que a paixão é o vento que faz a vela enfunar e sem este vento o barco não navega. Contudo, o mesmo Voltaire lembra que, dependendo da força do vento, o barco pode naufragar.
Neste segundo caso, quem ama, mesmo que possa sofrer com incompreensões momentâneas, manda arriar a vela e deixa o navio vagar até que a tormenta passe. O amor, por não ser tão imediatista e tempestuoso, teria, assim, a capacidade de discernir cenários mais favoráveis para garantir a perenidade do sentimento.
Que a torcida do Vasco é a mais apaixonada do Brasil, isso não se discute. Qualquer outra, que tivesse assistido a quatro rebaixamentos e a uma permanência na séria B (na prática um quinto rebaixamento), teria largado de mão há muito tempo.
O paradoxo é que esta torcida apaixonada assistiu inerte, e muitas vezes apoiando, a sua paixão ser prostituída, sua história ser vendida e seu futuro comprometido, a troco de 30 moedas e promessas vãs.
Os que amam o Vasco veem tudo com tristeza, porém devem saber discernir entre os cafetões que ganharam e ganham com a venda e a imensa maioria: os apaixonados iludidos. Estes últimos devem aprender o que é o verdadeiro amor ao Vasco.
Ou os apaixonados iludidos despertam ou descobrirão, quando for tarde demais, que os cafetões fugiram com o dinheiro e o patrimônio, que é em geral o que os cafetões fazem.
Com o fim do Vasco, alguns destes “apaixonados” menos convictos irão procurar uma paixão substituta. Outros viverão das lembranças e terão que se consolar com um verso de Mário Quintana: “Que importa restarem cinzas se a chama foi bela e alta?”. E, para piorar, no caso deles a única chama bela e alta terá sido a da ilusão.
Minha convicção – convicção de quem ama – é a de que o Vasco é imortal. Se o pior acontecer, outros vascaínos, para os quais o Vasco é parte integrante do que os define, seguirão o conselho do botafoguense Vinícius de Moraes: “É preciso inventar de novo o amor”. O Club de Regatas Vasco da Gama seguirá ou ressurgirá, mas jamais morrerá e em qualquer hipótese continuará ao longo da história despertando paixões ardentes e amores eternos.
Wevergton Brito Lima
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