As Múmias Paralíticas e seus poderosos argumentos

O comediante Agildo Ribeiro criou, lá pelos anos 80 do século passado, um tipo cômico que volta e meia xingava o personagem do seu colega de cena de “múmia paralítica”. Na época fez sucesso pois, convenhamos, é um xingamento que atinge em cheio seu objetivo. A palavra “múmia” já remete a uma coisa antiga e imóvel e uma múmia que ainda por cima seja paralítica representa o cúmulo da inação.

Agildo morreu no ano passado (2018) aos 86 anos, mas eis que constatamos, na reunião da última segunda-feira (3), do Conselho Deliberativo do Vasco, que as Múmias Paralíticas são numerosas e até mesmo formulam teses sobre a necessidade da inércia. Algumas são múmias até muito jovens. Na verdade, já nasceram múmias. E mais! Segundo alguns argutos analistas da vida interna do Vasco, foram os argumentos das Múmias Paralíticas que ajudaram a convencer parte importante dos conselheiros a arquivar o pedido de sindicância contra a administração Campello.

Foi impressionante presenciar o triunfo das MPs (Múmias Paralíticas) depois da votação que sepultou a proposta da comissão de sindicância. Cercavam o presidente do Vasco, o “vitorioso” da noite, que, todo sorrisos, não cabia em si de contente com o cheque em branco que acabara de receber. E foi um tal de tirar fotos e apertar mãos e dar e receber tapinhas nas costas que parecia que o Vasco estava classificado para as fases finas da Libertadores, da Copa do Brasil e em primeiro lugar do Brasileirão. “Tudo vai pelo melhor, no melhor dos mundos possíveis”, diria satisfeito o Dr. Pangloss, se assistisse à cena.

Vamos apresentar os argumentos das Múmias Paralíticas e os seus três grupos mais representativos:

A Múmia Paralítica de Suéter

O maior e mais tradicional tipo de Múmia Paralítica. Digamos que seja a múmia paralítica raiz. Seus argumentos principais para evitar investigar ou tomar qualquer atitude que rompa o imobilismo são:

Não adianta mudar se a solução não vier junto

Em todos os fatos da vida a Múmia Paralítica age guiada por este princípio. Por exemplo: o motorista da Múmia Paralítica desmaia e o carro para no meio da rua. Daí, um transeunte oferece ajuda e sugere que, para evitar um desastre, levem o motorista para o banco de trás e conduzam o veículo para o acostamento. Inevitavelmente, a MP vai argumentar que o transeunte não é mecânico, não é médico, nem trouxe um reboque e que seu único desejo é o de, na verdade, substituir o motorista. Como o cérebro da MP também já está mumificado, ela não percebe que muitas vezes MUDAR o comando é o primeiro passo para permitir que soluções de fundo sejam gestadas e viabilizadas.

A mudança pode gerar o caos

Neste caso, não adianta mostrar para a Múmia Paralítica que o caos já está instalado. Ela responderá, indiferente: pode piorar. E, inevitavelmente, sem tomar qualquer atitude, de fato a situação piora, o que dá uma certa satisfação à MP, pois sua previsão de alguma forma se confirmou. Isso lembra o experimento do sapo que é colocado em um tubo com água. O recipiente começa então a ser aquecido em fogo baixo. O sapo sente aos poucos o calor lhe queimando, mas não faz um movimento simples que ninguém está lhe impedindo: saltar fora do tubo. Ele morre cozido, mas apegado às suas convicções imobilistas. Vamos combinar: as Múmias Paralíticas são de uma coerência irritante.

A Múmia Paralítica Virtual

Tipo muito comum na internet. Do corpo, só mexe os dedos que usa para digitar comentários nas redes sociais. Raramente vai aos jogos, e 99,99% não é associada ao Vasco. Usa exatamente os mesmos argumentos da Múmia Paralítica de Suéter, mas com um tom enfático, que ela (a Múmia Virtual) acha que é prova de inteligência superior. Tudo vale para justificar seu amor pela omissão.

A Múmia Paralítica de Crachá

As Múmias Paralíticas de Crachá são o submundo das Múmias Paralíticas. Largamente desprezadas pela maioria das outras MPs (elas encontram respeito apenas em parte das Múmias Paralíticas Virtuais). Só se movem em caso de ameaça aos seus crachás de diretores ou de outro cargo qualquer. As que não têm ainda o crachá vivem na esperança de um dia possuí-lo e julgam que qualquer movimento que façam pode colocar em risco seus sonhos, que muitas vezes incluem também, quem sabe, conseguir uma colocação melhor pro genro, coitadinho, ou mesmo alguma cortesia pra camarote “que não vá lhe fazer falta, seu moço”.

Agora, falando sério: é preciso encarar a dura realidade: o Club de Regatas Vasco da Gama, o maior clube por Brasil por sua história e suas conquistas, está em último lugar no campeonato brasileiro e atualmente aparece na mídia mais como motivo de pena, piada ou por conta das inúmeras dívidas que a administração do superávit fake deixa sem pagar.

Enquanto isso, o torcedor do Vasco assiste atônito e indignado a uma dança macabra de múmias em torno de um presidente morto-vivo. É só prestar atenção para notar que neste baile a banda toca sempre a mesma música: a marcha fúnebre do Gigante. Mas tem gente que finge não ouvir.

Wevergton Brito Lima, jornalista

 

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