Em São Januário, todo zagueiro deve ser Bellini, todo atacante deve ser Dinamite

Nesta segunda-feira (20) o Vascão pega o Ceará precisando vencer para se afastar da “zona da morte”. Aliás, se vencer, o Vasco entra no elevador e vai para a 10º posição, ultrapassando o América-MG no saldo de gols. Isso mostra como é grande o equilíbrio da parte do meio da tabela para baixo. A diferença entre o oitavo colocado e o primeiro time da zona de rebaixamento é de apenas 7 pontos.

Quanto aos famosos dois jogos de atraso, supondo que este atraso não existisse e que tivéssemos conquistado apenas um ponto por jogo, ou seja, dois empates, o Vasco terminaria em 9º lugar, com 24 pontos, atrás do Cruzeiro (sempre lembrando que nesta conta está incluída uma vitória contra o Ceará logo mais).

Como se vê temos muitos “SEs”. “Se” o Vasco ganhar do Ceará, “se” tivéssemos no mínimo empatados os dois jogos não realizados… O problema, como dizia meu pai, é que o “se” não joga e a realidade retrata uma posição perigosa na tabela. O time está pressionado a vencer e uma vitória contra o “Vozão”, além de aliviar esta pressão para os próximos confrontos, dará mais confiança a um time que precisa muito acreditar em si mesmo.

O elenco vascaíno tem nítidas deficiências técnicas, mas nota-se, nas partidas, uma insegurança absurda, com jogadores profissionais errando jogadas as mais infantis.

“Porém, o jogo é em São Januário, o que nos ajuda”, dirá a cativante leitora e com razão. Ocorre, como diz uma antiga anedota de São Januário, que a social do Vasco primeiro pega no pé do lateral do próprio time, depois começa a apupar o técnico vascaíno, quem quer que seja, e só em terceiro lugar se lembra de incentivar a equipe e vaiar o adversário.

Como toda anedota, esta também tem seu tanto de exagero sem deixar de ter, igualmente, uma base real. A verdade é que a turma que fica na social do Vasco muitas vezes joga contra.

Ora, se o time é limitado, se tal ou qual jogador não é um primor na técnica, a situação só piora quando a torcida pega no pé. Isso é um raciocínio básico. Estranho que tanto vascaíno que se dá ao trabalho de sair de casa, hipoteticamente para torcer pelo Vasco, não chegue a esta simples conclusão.

Parece que tem “torcedor” que vai a São Januário apenas para desabafar toda sua mágoa com a vida e com cinco minutos de partida já está xingando um jogador toda vez que ele toca na bola. E não venham dizer que isso é de agora, que “antigamente não era assim”.

Lembro que ainda jovem fui assistir a um Vasco x Americano em São Januário (os que têm boa memória recordem, por favor, a data). O grande ídolo de todos os vascaínos, principalmente da nova geração daquela época, era Roberto Dinamite. Estava na social e um senhor, já de idade um tanto avançada (provavelmente a que eu tenho hoje), começou a cornetar o Dinamite: “isto é um bonde!”, “não joga nada!”, “perna de pau”. Isso durante todo o jogo. Fiquei revoltado, mas na minha. A partida estava quase nos 45 minutos do segundo tempo quando o Vasco tem uma falta na intermediária, bem longe do gol. Dinamite posiciona a pelota e… vocês já sabem: bola na rede. Enlouquecido de alegria, procurei o chato para me vingar quando eis que ele me abraça, gritando com um louco e dizendo emocionado: “Vi este garoto começar! Vi este garoto começar!”. Vá entender.

Portanto, quando a bola rola, todo zagueiro do Vasco para mim é Bellini, todo atacante é Dinamite.

Valdir Bigode, que já conta com a simpatia de boa parte da torcida, é um gênio da tática e não se fala mais neste assunto.

Isso, claro, durante os 90 minutos, depois do apito final, todas as manifestações, tanto de elogios quanto de crítica, devem ter lugar, desde que respeitados os limites impostos pela civilidade.

As divergências políticas que envolvem a vida interna do Vasco nunca podem superar o amor ao próprio Vasco. Assim, quando o Vasco faz um gol, não existem amarelos, verdes, vermelhos, etc., existem apenas vascaínos unidos em torno da cruz de malta.

Ingenuidade? Não, é assim o sentimento de um verdadeiro vascaíno e nada vai turvar nosso amor pelo Vasco.

Portanto, toda sorte ao Valdir Bigode, aos Bellinis e Dinamites que hoje entrarão em campo!

Por Wevergton Brito Lima, jornalista, conselheiro do CRVG, membro do Grupo Identidade Vasco.

 

 

 

 

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