Eterno

Ofereço esta crônica como um pequeno alento para nossas almas vascaínas feridas pela desesperança.

Wevergton Brito Lima

Eterno

A mini espaçonave finalmente entrou nos céus do Rio de Janeiro. Vejo ao longe o Corcovado. No meu veículo cabem 5 pessoas, mas estou só eu e meu neto. Já está um rapazinho. Lembro como se fosse hoje quando nasceu, em 2.515. Agora tem oito aninhos e se julga quase um adulto. Incrível como o tempo passa rápido. Eu e meu filho somos estudiosos do futebol e o garoto pegou o gosto. É louco pelo “tradicional esporte bretão”. Ao passarmos por um bairro da zona sul do Rio, faço com que olhe para baixo.

– Veja meu neto, ali onde está este edifício com a cúpula de vidro, está vendo?

– Estou sim, vovô.

– Pois lá ficava a sede de um poderoso time brasileiro, que durante muitos anos teve uma grande torcida.

– E o que aconteceu com eles, vovô?

– O Clube fechou.

– Por quê?

– Porque não tinha história real. A torcida grande deles era fruto de uma construção midiática vinda das elites da época.

Vi, pelo seu rostinho, que não havia entendido nada. Tentei outra abordagem.

– Lembra quando brincamos de construir pirâmides de bloquinhos de encaixar? O que aprendemos?

Ele franze a testinha, e inteligente, responde:

– Aprendemos que se a base tem poucos bloquinhos a pirâmide cai.

– Isso. Em uma instituição, mesmo em um clube de futebol, o que garante sua permanência é sua base compacta de bloquinhos, ou seja, sua história. A história, se for verdadeira, é como milhões de bloquinhos encaixados, e você pode construir muita coisa em cima. Se a história for falsa, inventada, a base tem poucos bloquinhos sem encaixe e qualquer construção se sustenta provisoriamente. Qualquer movimento em falso ou uma simples brisa a derruba.

Ele ouve atentamente e, depois de um instante, um leve sorriso mostra que entendeu a metáfora desajeitada que eu criei.

– Veja meu neto, chegamos!

O menino olha maravilhado a majestosa imagem de São Januário, totalmente iluminado no final da noite.

– Vovô, um dia o Vasco vai acabar?

– Nunca. A história do Vasco é como aqueles milhões de bloquinhos encaixados que eu comentei e que sustenta o nosso Clube. É verdade que, alguns séculos atrás, um grupo de bandidos vendeu o Vasco e

– Vendeu o Vasco???

A pergunta do meu neto foi indignada. Era a inocência ultrajada que se manifestava. Como é possível vender algo que, segundo eu e seu pai ensinamos, é “sagrado”?

– Sim. Um grupo de bandidos vendeu o Vasco.

– Para quem?

– Para outros bandidos.

– E o que aconteceu?

– Os vascaínos da época se revoltaram e tomaram o Clube de volta. Dizem até que no porão de São Januário existe uma galeria secreta com a foto e o nome de todos os traidores que venderam nosso time. Segundo a lenda, os conselheiros do clube, ao serem eleitos, têm que percorrer toda a galeria e jurar jamais trair o Vasco.

– Uau! Um dia, quando eu crescer, vou ser conselheiro do Vasco e vou jurar também.

– Hehehe, tenho certeza que sim. Veja, estamos pousando.

– Vovô, é verdade que São Januário nunca mudou?

– Não, mudou sim. Passou por várias ampliações e reformas, mas sempre preservando sua fachada original. São Januário é o único estádio do mundo que é considerado patrimônio histórico da humanidade.

– E o que está escrito ali?

– São as duas frases fundamentais do Vasco. Uma é de um ex-presidente do Clube de mais de 5 séculos atrás, Cyro Aranha, “enquanto houver um coração infantil, o Vasco será imortal”. Não consegue ler a outra para mim?

O danadinho lê de forma fluente e, para minha surpresa, diz com grande ênfase:

– Vasco da Gama, quem tem história é imortal!

Disfarço virando o rosto como quem está preocupado com o pouso (todo feito automaticamente) e digo, com uma falsa urgência, apenas para que ele não note minha emoção: vamos nos apressar para tentar conseguir lugar na social! Meu neto não desce… pula da mini espaçonave e saltitando alegre, junto com a multidão, grita “Vasco, Vasco!” e de repente, com os olhos cheios de lágrimas, vejo, na felicidade do meu neto, a frase se tornar realidade: o Vasco é eterno.

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