Eu, Vasco da G., 126 anos, drogado e prostituído

Les Demoiselles d’Avignon , de Pablo Picasso

 “Desaconselhável para menores.”

Por João Carlos Nóbrega*

Não importa a versão, desconsidere a narrativa, abomine o espetáculo de hipocrisia que está sendo protagonizado pelos cedentes do futebol do Vasco em 2022. O fato é que para onde se olhar, seja lá qual for a sua tribo, não se pode negar que, desde então, o Vasco é oferecido em praça pública para serviços de prostituição.  É a meretriz da moda, a cortesã de prestígio, a rapariga facinha.

Tratar o Vasco como prostituta, rameira, objeto, tem sido o videogame dessa gente. Primeiro, a mantiveram na segunda divisão de forma proposital com a finalidade de que pudesse ser vendida baratinho. Venderam-na para uma empresa de fundo de quintal, seis anos de “estrada”, liderada por um sujeito que deixou a condicional em 2019 por tráfico de drogas, apenado desde dois mil e poucos. A entrega foi realizada, obviamente, sob os devidos comissionamentos, declarados em balanço patrimonial da SAF como 30 milhões de reais. O repasse da concubina ao alcaguete.

Não é demais lembrar que no dia seguinte em que se descobriu o histórico daquele que se tornou dono do futebol do Vasco, a gloriosa imprensa esportiva pro-fis-sio-nal correu para amortecer possíveis danos publicando, inclusive, que o volume traficado foi muito modesto. Nossos puritanos com di-plo-ma mandaram o seguinte recado: um traficantezinho redimido, mesmo com 26 anos de pena nas corcovas, amenizados para 13 sob condicional, pode mandar nisso daí, não tem problema.

O que se viu depois disso foi o contrário absoluto do prometido. A cafetagem prometeu profissionalismo? Entregou-se bandalheira. A cafetagem prometeu resultados? Entregou-se derrota e vexames múltiplos. A cafetagem prometeu investimento? Entregou-se a fina flor da perebagem. A cafetagem prometeu patrimônio? Entregou-se sucata. A cafetagem prometeu sustentabilidade do clube social? Entregou-se o seu extermínio. A cafetagem prometeu recursos financeiros? Entregou-se pirâmides e castelo de cartas. A cafetagem prometeu fuga do pântano? Entregou-se lama e areia movediça.

Parte dos sujeitos que doaram o futebol do Vasco no passado decidiu agora, após o arrombamento das entradas e entranhas institucionais, usar o próprio prestígio com a finalidade de conseguir, por vias judiciais, reaver e revender o futebol. São os vendilhões de outrora, entreguistas da hora. O caminho escolhido é torto, frágil e irresponsável, mas nada parece obstáculo quando, por incrível que pareça, a gloriosa imprensa pro-fis-sio-nal descobre, por encanto, que a tal 777 se trata de uma fraude. A mesma fraude denunciada por alguns Dons Quixotes desde 2022. Em duas semanas, transformaram o “empreendedor regenerado” em golpista famigerado. Nossos puritanos com di-plo-ma nunca nos surpreendem e assim, coincidentemente, as manchetes e matérias “bombásticas” alavancaram com ilustrações a ação movida na Vara Empresarial. Realmente, uma obra do acaso, não é verdade?

Enquanto isso, para tudo o que é nego torto, do mangue e do cais do porto, a namorada era oferecida. Crefisa, BTG, controlador do Liverpool, fundo árabe, chineses, russos, marcianos, lunáticos e o dono do enorme zepelim estão em vias de possuí-la. Os oportunistas de plantão esfregam as mãos apostando que essa Instituição centenária ainda tem como ser escarafunchada em favor dos rufiões da decadência.

Os senhores podem estar otimistas ou pessimistas. Serem contra ou a favor de SAF. Adorarem ou detestarem o comando exercido por alienígenas. Acreditarem em monstros do pântano ou em vigaristas falastrões. No entanto, seja para uma claque, seja para a outra, não há como deixar de concluir que o que fizeram contra o Vasco, seus valores e suas tradições foi uma covardia sem precedentes. Entregaram a Instituição para fins alheios aos preceitos de sua fundação. Repetirão a dose. E assim, de mãos em mãos, ela é despida e violada. Até que não exista mais resquício sequer de princípios, dignidade e respeito.

* O autor renunciou ao título vitalício de Benemérito do Club de Regatas Vasco da Gama, em protesto pela venda do futebol

Fonte: Rede X do autor

1 comentários

  1. Excelente artigo! Um texto forte, pujante e que demonstra a revolta de quem se viu aviltado com essa libertinagem que fizeram com o Vasco.
    Tenho certeza que esse sentimento do autor é compartilhado por grande número de vascaínos que não se rendem à nutelagem institucionalizada que tomou conta dessa torcida!
    Não será fácil reaver o que nos foi roubado, mas enquanto houver esperança estaremos nessa luta!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *