Medidas extraordinárias são necessárias em momentos extraordinários. O ponteiro desse relógio chegou ao Vasco.
Por Leandro Fontes*
A derrota acachapante para o Ceará foi à gota d’água de um modelo medíocre e obsoleto. Fala-se muito de gestão, profissionalismo, modernização… Igual, todos os passos dados até aqui foram em regra previsíveis e absolutamente insuficientes. A rigor, o Gigante passa por uma profunda ressaca de “garrafas e mais garrafas de obviedades” que embriagou não só os membros da diretoria administrativa como elementos da vanguarda vascaína que disputam o poder.
Após a febre da dolorosa derrota, a questão que está colocada é: o que fazer?
O ponteiro do relógio segue avançando. Paralelamente, o time de futebol profissional do Vasco aparenta estar com um tipo de depressão em meio a uma escuridão, andando sem qualquer rumo. Acontece que não há mais tempo para custosos testes importados. É preciso ação contundente. Isso porque a hipótese do quarto rebaixamento do Vasco da Gama no campeonato brasileiro é tão real e atormentador quanto à letalidade da pandemia do Covid-19.
A pergunta que fica então é a seguinte: como enfrentar essa situação concreta que pode abater o clube?
Fazendo analogia defensiva de uma guerra, quando um país é atacado por um exército invasor, habitualmente as forças nacionais se unificam num período determinado de pacificação para combaterem como um homem só o inimigo comum. A palavra de ordem “paz entre nós, guerra aos senhores” pode ser um instrumento de mobilização útil para um objetivo imediato. Todavia, é preciso coragem, altivez, tenacidade e comando. E acima de tudo colocar o objetivo comum imediato à frente de qualquer disputa interna.
A analogia defensiva da guerra não passa de uma vontade. Sabemos que a realidade é complexa, a miopia é rigorosa e a rigidez do funcionamento dos poderes do clube não abre muitos horizontes para a formação de uma espécie de “gabinete de crise convergente” que também pode ser chamado de comando de transição. Porém, esse deve ser o espírito, de unidade diante da crise, para guiar o quadro social e a torcida Almirante nesse momento penoso.
Entretanto, o relógio segue andando e a indagação permanece: o que fazer? O óbvio do óbvio é priorizar o Campeonato Brasileiro. Essa decisão deve ser tomada imediatamente. A continuação da Copa Sul-Americana deve servir para testar e dar ritmo de jogo a uma parte do elenco que nesse momento não está no time principal. O passo seguinte é substituir o treinador pelo nome que, em grande medida, conhece o material humano do Vasco e com o que tinha na mão colocou o time para rodar. O nome desse treinador é óbvio: Vanderlei Luxemburgo.
A partir daí, assim como Antônio Lopes no triangular final de 1982, o treinador do Vasco, apoiado por todos os setores clube (incluso por Leven Siano, que irá assumir a presidência no próximo triênio), deve ter carta branca para barrar quem julgar necessário para restabelecer um padrão e o conjunto do time.
É possível o Vasco superar essa nova tormenta? Sim! É possível! O Vasco é grande demais, tem força suficiente para superar todos os obstáculos que estão em sua frente. Mas, para isso é preciso ação. Ação com A maiúsculo. O comando atual e o próximo devem entender que nesse momento tudo que importa é o pavilhão com a cruz de cristo tremulando no hall mais alto do desporto nacional.
Ainda há tempo!
* Leandro Fontes é professor de Geografia, Sócio do Vasco e autor do livro Vasco: o clube do povo – uma polêmica com o flamenguismo (1923-1958)