O que Pedrinho “et caterva” querem para o Vasco?

A liminar concedida na quarta-feira (15), afastando a 777 Partners do comando da SAF Vasco é uma boa notícia, porém, o que desejam Pedrinho e sua turma?

Por Wevergton Brito Lima*

Vamos à primeira parte, sobre o porquê de esta ser uma boa notícia, caso a decisão prevaleça.

Bom, se a liminar for mantida, a 777 Partners (que contratou para defendê-la um escritório de advocacia com poderosos sobrenomes) não chegará a completar três anos como dona do futebol vascaíno.

Na verdade, a 777 Partners pode, em prazo de poucos meses, nem sequer existir mais.

Nesta quinta-feira (16) a agência de notícias Associated Press (AP) informa que a justiça belga determinou o confisco de todos os bens da empresa na Bélgica. Leiam, ao final do artigo, a tradução de um trecho do despacho da AP e vejam a gravidade da situação.

Notícias igualmente divulgadas nesta quinta-feira dão conta de que Josh Wander, sua irmã Mollie e Steven Pasko, sócios-controladores, “renunciaram” aos seus cargos como diretores da 777 Partners (na verdade, foram defenestrados).

Notícias como essas vem num crescendo em toda a imprensa internacional, e faz tempo.

Tudo isso prova o tamanho da mentira que Jorge Salgado, Carlos Osório, Duque Estrada, Júlio Brant, entre outros, contaram aos vascaínos.

Eles garantiram que a 777 foi escolhida entre muitas outras empresas que procuraram o Vasco interessadas em comprar o futebol.

Se isso for verdade, o critério para escolher a 777 foi baseado em outros interesses, menos os interesses do Clube.

Asseveravam também que a 777 era uma empresa sólida, com grande capacidade de investimento, o que teria sido corroborado por uma “due diligence” cuja correção foi confirmada pela KPMG.

Agora, que se expliquem os que deram o aval para o que era uma evidente falcatrua.

Sim, a falcatrua era evidente, para quem não fosse cego por conveniência.

Como é possível que uma “due diligence”, que pressupõe uma avaliação profunda do negócio, não tenha constado o que desde o início chamava a atenção de qualquer observador isento? Uma empresa novata (sete anos de existência por ocasião da compra do Vasco), cuja origem do capital era obscura, sem experiência em gestão de futebol, com notórios problemas éticos reportados em seu negócio de origem (compra de acordos judiciais).

Na verdade, a cena da efusiva comemoração de Salgado, Osório et caterva por ocasião da Assembleia Geral Extraordinária que, em agosto de 2022, aprovou a venda do futebol, ainda mais vista da perspectiva de hoje, parece bem elucidativa.

Afinal, estava se decretando o fim do departamento de futebol do Club de Regatas Vasco da Gama, que existia desde 1915 com gloriosa história. Mesmo para os defensores da solução de vender o futebol, o momento exigia uma postura comedida, como a reconhecer que era um caminho doloroso. Mas não, a vibração parecia a conquista de um título.

Não estou afirmando que é o caso, mas lembra muito a comemoração de vendedores que bateram uma meta e celebram gordas comissões…

E aí chegamos ao ponto de especular o que Pedrinho e sua turma desejam para o Vasco.

Não custa recordar que eles participaram de tudo isso. Foram entusiastas da venda para a 777 sem ler o contrato. Como lembrou sutilmente o Jorge Salgado, na cínica nota que divulgou sem ter a coragem de colocar seu nome (consta apenas que é de autoria da gestão anterior).

Assim que Pedrinho venceu, nós alertamos que o projeto da gestão eleita seria romper com a 777 para vender de novo.

O que está claramente se confirmando. Porém, independentemente dos motivos que movem o Pedrinho e sua turma, afastar a 777 é um passo correto, nem que seja apenas para preservar o Estádio de São Januário e a Sede Náutica da Lagoa.

Eu gostaria, é claro, de acreditar que Pedrinho Globeleza, Belaciano, “rato” Brito, e outros de igual estirpe, embora preservando o nefasto modelo da SAF, irão, da mesma forma, preservar o Vasco como sócio majoritário, mostrando que os vascaínos, assim como fizeram durante toda a sua história, são a garantia da grandeza do clube. No entanto, faz 52 anos que eu deixei de acreditar na fada do dente, papai Noel, e coelhinho da Páscoa.

Assim, não resta alternativa aos vascaínos anti-SAF e pró-CRVG a não ser permanecerem dispostos a lutar para resgatar o Vasco pois tudo indica que vem aí nova comemoração por “meta batida”, desta vez com outros vendedores.

Por fim, não posso deixar de parabenizar o grande advogado Paulo Cesar Salomão Filho, 1° vice-presidente geral do CRVG, autor de inúmeras proezas jurídicas e grande responsável por afastar (esperemos que definitivamente) a 771.

É uma benção dos deuses que esta mistura de Cícero e Rui Barbosa esteja a serviço do Vasco.

Graças ao seu fecundo talento e imenso saber jurídico, Salomão consegue tirar leite de pedra, sempre a serviço da verdade e da justiça.

Foi assim, na memorável data de 7 de novembro de 2020, quando Salomão conseguiu uma medida cautelar do então presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Humberto Martins, suspendendo uma eleição do Vasco que estava em seu final (e na qual sua chapa estava sendo derrotada), com mais de 3 mil sócios tendo votado presencialmente.

Os argumentos do nobre advogado foram tão retumbantes que convenceram o presidente do STJ a ignorar a norma processual que proíbe uma corte superior de julgar casos que ainda tramitem, sem decisão colegiada, em corte inferior, o que era exatamente o caso e, fascinado diante do fulgor de uma inteligência superior, Humberto Martins ainda passou por cima até de uma resolução que ele mesmo havia acabado de assinar colocando o tribunal em regime de plantão e determinando que tipo de decisão poderia ser tomada em tal regime, sendo que “medida cautelar”, que foi concedida a Salomão, não constava na lista.

E fez muito bem o Humberto Martins! Normas e resoluções burocráticas, que em tese, valeriam para os simples mortais, devem se curvar diante da prosódia deste Péricles moderno, que em breve superará o Salomão bíblico em termos de fama e prestígio.

E agora, mais uma vez, mesmo diante de um assunto muito complexo, com consequências drásticas, Paulo Cesar Salomão Filho preparou um pedido de liminar tão brilhante que o juiz só poderia fazer mesmo o que fez: com os olhos nublados por lágrimas de veneranda admiração, conceder tudo o que foi pedido e no mesmo dia em que foi pedido, confirmando o que se conhece da justiça brasileira: sempre célere a serviço da lei!

Faltam-me adjetivos para qualificar o grande Salomão, cuja genialidade revela cabalmente o acerto do velho ditado: “filho de peixe, peixinho é”. Como se sabe, Salomão é filho de desembargador (já falecido) e sobrinho do atual ministro do STJ e corregedor do Conselho Nacional de Justiça, Luís Felipe Salomão, o que prova que um dom superior é, no Brasil, coisa de família, desde os tempos das capitanias hereditárias.

* Jornalista, sócio remido do CVRG

Trecho da matéria da AP:

 “um tribunal belga decidiu na quinta-feira que todos os ativos do país pertencentes ao grupo de investimento americano 777 Partners podem ser confiscados, no mais recente revés legal para a empresa proprietária do Standard de Liège e de vários outros clubes de futebol. A decisão de um tribunal de Liège veio depois que o ex-proprietário do Standard, Bruno Venanzi, e os acionistas da empresa que detém o estádio do clube solicitaram a medida, dizendo que o 777 havia deixado de pagar suas obrigações contratuais. Isso ocorre após um período de turbulência jurídica e financeira para a empresa de investimentos com sede em Miami, que também viu sua companhia aérea na Austrália ser suspensa nas últimas semanas e enfrenta um importante processo de fraude em Nova York. A mídia belga informou que o tribunal autorizou a apreensão de todos os bens dos 777 Partners no país, incluindo contas e ações do Standard, bem como ações da ‘Immobilière Standard de Liège’, proprietária do estádio Maurice Dufrasne. O tribunal se recusou a comentar quando contatado pela Associated Press. Após a apreensão dos bens do 777, incluindo ações e contas na Bélgica da Immobilière e do clube, esperamos que esta medida leve o 777 e/ou o seu gestor de crise a responder às nossas perguntas e pedidos, que até agora foram ignorados, declarou a empresa proprietária do estádio do clube belga, ‘Se não houver resposta da parte deles, tomaremos novas medidas para proteger os nossos interesses e os do Standard de Liège’, acrescentou. ‘Nossa prioridade é garantir a continuidade e estabilidade do Clube no curto, médio e longo prazo. Estamos à disposição da direção do Clube para ajudá-los a encontrar uma solução duradoura para o Standard de Liège.”

2 comentários

  1. Parabéns Wevergton!
    Com sua genial maestria abordou o assunto de forma isenta, criticando com sua conhecida sabedoria a questão jurídica e seus efeitos políticos.
    Forte abraço

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