O simulacro amarelo saiu salgado. Porém, deu Vasco!

O título dessas breves linhas brotou na cabeça cinco horas antes do resultado final da controversa eleição on-line sustentada pelo senhor Mussa. Isso porque pouco importava o resultado no Calabouço. Somente uma pessoa muito ingênua poderia crer que o desfecho desse nebuloso processo, sem nenhum respaldo estatutário, seria sustentado.

Por Leandro Fontes*

A rigor, o terceiro colocado da eleição presencial tentava uma catapulta para alcançar o primeiro lugar na eleição virtual. Já o segundo colocado na eleição presencial lutava para preservar sua vantagem diante do terceiro colocado na eleição de São Januário.

Nesse “novo” pleito três dos cinco candidatos decidiram não participar. Além disso, como é de conhecimento público, a eleição on-line não apresentava transparência digna de nota. A começar pelo senhor Mussa que tinha que se afastar de qualquer posição referente aos desdobramentos da eleição do clube. Aliás, esse senhor deveria se declarar impedido de qualquer posição polêmica no pleito, uma vez que em uma das chapas estão inscritos como concorrentes três filhos e um neto seu. Ao invés disso, Mussa decidiu bancar uma posição claramente parcial no processo.

Acontece que o Vasco da Gama não é um clube de bairro. O Vasco é o Vasco, com sua força e sua tradição, com uma vanguarda atuante e vigilante. Portanto, a tentativa de substituir uma eleição presencial por um simulacro virtual – alterando assim à resultante do processo – não iria passar imune. Como não passou.

Já pela manhã a maioria da mesa diretora, por 3 votos a 1, seguindo o regimento interno, oficializou que a eleição on-line era ilegal. Quer dizer, não tramitava pelos parâmetros do estatuto do Vasco. Todavia, os responsáveis e concorrentes da eleição virtual decidiram continuar a votação alegando que estavam amparados por uma decisão judicial.

Assim sendo, por volta das 22h30m deste sábado é declarado o vencedor: Jorge Salgado, candidato da chapa Mais Vasco. O candidato Júlio Brant da chapa Sempre Vasco, novamente, é derrotado. Nessa epopéia melancólica, com algozes atuando abertamente contra o estatuto do Vasco, é interessante comparar os números dos dois processos, no tocante a participação do quadro social do clube.

– Eleição presencial em São Januário (07 de novembro de 2020): 3.447 votantes.

– Eleição on-line centralizada no Calabouço (14 de novembro 2020): 3.054 votantes.

Os números por si só deixam explicito que, independentemente de qualquer questão, a eleição de São Januário congrega, em forma e conteúdo, maior referendo dos sócios do Vasco e está 100% enlaçada pelo rito do estatuto. Esse fator agregado já daria munição para a disputa de narrativa seguir. Mas, pelo bem do Vasco, pelo menos até o momento, isso não foi preciso. Já que o STJ (Supremo Tribunal de Justiça) derrubou a liminar que suspendia os efeitos da eleição presencial. De tal maneira, Leven Siano volta a ser, provado por A mais B, o legítimo novo presidente eleito do Club de Regatas Vasco da Gama.

Que lições se pode tirar sobre tudo que passou? Uma me parece cristalina: a legalidade no Vasco não pode ser maculada. Todavia, esse passo defensivo não é suficiente, é preciso que os poderes do clube funcionem de modo coerente e coeso como sentinelas da instituição, tendo o quadro social do Vasco e a torcida, o povo vascaíno, como contingência mobilizada na defesa das NOSSAS regras e do NOSSO estatuto. É por esse caminho que devemos seguir perante a encruzilhada.

 * Leandro Fontes é professor de Geografia, Sócio do Vasco e autor do livro Vasco: o clube do povo – uma polêmica com o flamenguismo (1923-1958)

 

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