O Vasco (e a torcida) sem rumo – a necessária mudança de rota (Parte 1)

Meninos e meninas, sempre fui vascaíno desde que nasci, lá se vão mais de cinco décadas.

Sou daquele tipo de torcedor de passar mal em certos momentos de maior nervosismo e acompanho há muitos anos os acontecimentos esportivos e políticos do Vasco. Durante todo este tempo vivi inúmeras alegrias, algumas tristezas e presenciei muitas coisas tenebrosas e/ou pitorescas, mas posso afirmar sem medo de errar: nunca vi o Clube e a torcida tão desorientados, tão sem rumo.

A falta de títulos significativos, de bons times e, ao contrário, a atuação de times medíocres que desonram a história do Gigante da Colina – o que vem se repetindo nos últimos anos – explica muita coisa, lembrando, com a devida adaptação, aquela antiga frase: em casa que falta pão, todo mundo briga e ninguém tem razão.

Um fato que contribuiu para este estado de coisas foi a cultura personalista que nas últimas décadas impregnou o ambiente político vascaíno, dividido em dois campos antagônicos: euriquistas x anti-euriquistas.

Neste ambiente pernicioso, a “personalidade” de fulano e beltrano – seja de Eurico, seja dos seus antagonistas – acabou ofuscando o princípio básico que deve reger a vida de um clube do tamanho do Vasco: NINGUÉM ESTÁ ACIMA DA PRÓPRIA INSTITUIÇÃO. Este princípio elementar, convenhamos, foi esquecido tanto por parte do chamado campo “euriquista”, para o qual o Vasco sem Eurico não era Vasco, como por parte do campo oposicionista, que chegava a fazer o jogo dos inimigos do Clube só para, desta forma, atingir Eurico.

O ex-presidente Eurico Miranda infelizmente morreu, mas a cultura personalista sobrevive.

A prova é que a torcida do Vasco, em grande parte, dorme em berço esplêndido, a espera de um salvador da pátria. E é cada salvador que a torcida escolhe…

É uma espécie de “sebastianismo” vascaíno.

“Fora Eurico! Viva Dinamite”. “Fora Dinamite! Viva Eurico”. “Brant é o caminho, a verdade e a vida”.

E assim seguimos, a procura de um messias, na “eterna luta” do “bem” contra o “mal” em um maniqueísmo próximo da debilidade mental.

Infelizmente, caros confrades vascaínos e vascaínas, o buraco é bem mais embaixo.

Precisamos acabar com a busca por soluções messiânicas e simplistas que estão longe de dar conta das complexas questões que envolvem a crise vascaína.

Para isso é necessário romper decisivamente com a cultura personalista que dividiu em campos inimigos pessoas que tem em comum o amor ao Vasco e que, juntas, podem colocar o gigante de novo nos trilhos.

Não se enganem: Dom Sebastião não virá nas nuvens, glorioso e invicto, restaurar a glória do Vasco. A solução não virá dos céus, nem de fora do Vasco. Isso é uma ilusão nefasta. A solução para os problemas do Vasco será gestada de dentro para fora, como sempre ocorreu na história vascaína. Neste sentido, ou a torcida acorda para a necessidade de uma mudança de rota baseada em uma pactuação interna que permita um período de paz para que o Vasco retome seu caminho, ou o desastre se consumará.

Os termos deste entendimento entre os vascaínos vou expor na última parte deste artigo, mas antes gostaria de frisar que existe um grande obstáculo no caminho desta necessária mudança de rota amparada pela pactuação, e este obstáculo também é um fenômeno complexo: a maneira como atualmente se forma a opinião sobre a vida interna do clube.

(continua amanhã)

Wevergton Brito Lima, jornalista

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *