Clique aqui e leia a parte 1 deste artigo.
É realmente espantoso o que se ouve e o que se lê de alguns “formadores de opinião” vascaínos. O problema não é querer ser “formador de opinião”, afinal, cada um tem direito aos seus sonhos. O problema é pretender ser formador de opinião abordando um tema (a política vascaína) sobre o qual você não tem informações mínimas nem preocupação em levantá-las.
Com o tema “Vasco” existem hoje dezenas de sites e canais que pululam de “especialistas”, todos com a receita prontinha para tirar o clube da crise. Aliás, os “especialistas” em geral têm as mesmas receitas, por vezes repetindo as mesmas palavras, geradas pela mesma ignorância.
Na década de 1980 o grupo Kid Abelha lançou uma música com um trecho onde dizia: “Eu sei de quase tudo um pouco e quase tudo mal“. Hoje, isso parece ser o lema de uma quantidade incrível de pessoas.
Quanto mais superficial, palatável e “radical” uma proposta for, mais adesões ela parece conseguir mesmo que seu conteúdo seja vazio e suas premissas falsas.
Junte-se a isso o jornalismo esportivo chapa-branca, que desinforma e confunde, e temos então a “tempestade perfeita”. Existem jornalistas (não são todos, é óbvio) que se prestam a plantar notícias favoráveis à atual diretoria do Vasco por dois motivos básicos. Interesse pessoal direto (contratação do herdeiro como funcionário do Almirante, por exemplo) ou motivos editoriais (trocando em miúdos: ordem de cima que o jornalista é obrigado a cumprir). Atualmente o mais importante “motivo editorial” é o seguinte: o presidente do Vasco conduziu, de forma tão “transparente” quanto à venda do Paulinho, negociações com a Rede Globo para a renovação dos direitos de transmissão dos jogos, não se sabe sob que condições ou o que o Clube ganhou com isso. Resultado: enquanto o Vasco afunda, a Globo, agradecida, manda a orquestra continuar a tocar e parte da torcida acompanha embevecida a melodia: “o Vasco está entrando nos trilhos”, “superávit maior do que o do Flamengo e Palmeiras”, etc. Quando o barco afundar de vez, a Globo, esta histórica amiga do Vasco, joga dois ou três botes que não representam nem 10% do que o Clube dá de retorno em termos de audiência e fica tudo certo.
Daí, um torcedor vascaíno lê ou ouve, de um suposto “formador de opinião” ou de um jornalista “chapa branca” uma análise ou informação que é transmitida de forma enfática, com ares de verdade absoluta. E acredita. Então ocorre um efeito cascata, interessante e maléfico: baseado em análises e informações suspeitas ou que tem como fonte uma pessoa que nada sabe sobre o que está falando, o torcedor forma opiniões sólidas como uma rocha, mas apoiadas em vento.
O mal que isso causa é imenso e ajuda a torcida do Vasco a perder o foco no que é essencial, direcionando suas energias para o que é secundário e, muitas vezes, falso.
No entanto, para um vascaíno verdadeiramente apaixonado o Vasco é assunto da maior seriedade.
Existem aqueles que enxergam o Vasco como uma mera diversão ocasional. Este tipo de torcedor, quando calha de assistir aos jogos, desopila. O time é canal para extravasar todo tipo de emoções, nem sempre as mais positivas. Alguns destes até se consideram vascaínos apaixonados, mas a paixão deles dura 90 minutos (ou menos, dependendo do andamento da partida). Nada contra. Todo o respeito a estas pessoas que, de uma forma ou de outra, levam a cruz de malta no peito. Inclusive elas representam a maioria da torcida. De qualquer torcida, não só a do Vasco.
Mas existem outros tipos de torcedores. São os eternamente apaixonados, digamos assim. São numerosos embora não formem a maioria. São aqueles para os quais o Vasco, por tradição familiar, por um misterioso sentimento espontâneo, por razões históricas, etc., tornou-se parte importante da própria VIDA.
Para estes, se o emprego é muito bom, se a vida amorosa anda às mil maravilhas, mas o Vasco está mal, algo importante está faltando.
Se, ao contrário, o emprego é uma bosta, o amor está em crise, mas o Vasco está bem e vencendo, todo o fardo fica mais leve de carregar.
É este tipo de torcedor que garante o futuro do Vasco. É este tipo de torcedor que deve acordar de sua letargia e perceber que o Vasco tem mais de 120 anos e que neste longo tempo já enfrentou diversas crises tão graves como a atual e as venceu como sem dúvida vencerá mais esta.
Este tipo de torcedor jamais pode pensar em abandonar o Vasco. Jamais deve desistir de formar novos vascaínos mesmo em uma fase péssima. Jamais pode deixar de apoiar o time em quaisquer circunstâncias ou se entregar a eternas desculpas furadas para não se associar (“não me associo enquanto for o Eurico”, “não me associo enquanto for o Dinamite”, “não me associo enquanto for o Campello”, “não me associo enquanto não for eleição direta”, “não me associo enquanto os dinossauros não ressuscitarem”, etc.).
Este tipo de torcedor jamais pode tratar os assuntos do Vasco com leviandade e sem raciocínio crítico, afinal ele conhece a nossa história e sabe quem são nossos verdadeiros inimigos.
A base para o diálogo
É certo que duas pessoas com acesso semelhante a informações fidedignas sobre uma determinada situação podem chegar a conclusões diametralmente opostas sobre esta mesma situação. Mas entre elas, apesar da diferença de opinião, haverá diálogo, pois, partem, para sustentar suas conclusões, de bases concretas sobre as quais formaram suas opiniões. Já o debate entre quem tem convicções fruto de informação e análise e entre quem forma visões sem qualquer base real é praticamente impossível (é mais ou menos como se um cientista especializado em astronomia fosse buscar um diálogo racional com o seguidor de um astrólogo maluco defensor de que a terra é plana). Aliás, no segundo caso, no mais das vezes, o sujeito acaba cultivando não uma convicção – pois faltam elementos para sustentá-la – mas um sentimento que em geral gira em torno de um messias/mito que será a salvação em luta contra um suposto inimigo que representa todo o mal.
Para que exista um debate produtivo é preciso que os debatedores, mesmo com pontos de vista díspares, tenham o espírito aberto para a divergência e partam de uma base minimamente racional, senão, na maior parte das vezes, é perda de tempo.
No debate sobre o Vasco e sua crise devemos, em primeiro lugar, fazer um esforço para nos livrarmos das contaminações e preconceitos – em boa parte disseminados e ampliados por falsos formadores de opinião e jornalistas chapas brancas – e partir da constatação básica de que um vascaíno como você, que está lendo este artigo, não poderá assistir impassível ao desmoronar do Gigante.
Assim, deixando qualquer rancor, rivalidade, ou interesses menores de lado, é forçoso reconhecer que o atual presidente, Alexandre Campello, já relevou com sobras sua completa incapacidade política e administrativa.
Para qualquer um que conheça a realidade do Vasco não existe dúvida: sob a condução do atual presidente o Vasco está no rumo do completo desastre. Isso é confessado à boca pequena inclusive por pessoas próximas à presidência e com cargo na Diretoria. O descalabro administrativo e financeiro é completo.
Como se fosse Alice no país das Maravilhas, Campello segue com sua fábula fantástica de “recuperação financeira”, “superávit maior do que Palmeiras e Flamengo” enquanto a realidade é de salários atrasados, novas dívidas acumuladas e decisões judiciais que mencionam acordos não cumpridos e, o pior, isto é apenas a ponta do iceberg.
Uma a uma as mentiras de Campello caem como castelos de cartas ao sopro do menor vento. Assim como as mentiras, caem também as desculpas.
“A culpa é da herança maldita”. Em seu discurso de posse, Campello disse textualmente:
“gostaria de agradecer ao presidente Eurico Miranda pela transição que está sendo conduzida de forma cortês e sem qualquer atrito. Sei das dificuldades, das dívidas, da baixa receita, mas sei também que não estou sozinho nesta luta”.
Ou seja, não só ele tinha plena consciência do quadro que encontrou como usar este tipo de argumento é uma desculpa surrada e inaceitável de quem tenta fugir as suas responsabilidades.
“O Grupo Identidade Vasco é que atrapalha a gestão”. Todos os vice-presidentes e diretores do I.V. renunciaram a seus cargos há mais de doze meses, tempo durante o qual Campello teve toda liberdade do mundo para montar sua equipe.
“O presidente do Conselho Deliberativo, Roberto Monteiro, quer sabotar a gestão”. Estamos no final de maio e o Conselho Deliberativo só se reuniu uma vez este ano, a pedido do Conselho Fiscal que não recebia os documentos devidos para exercer sua função estatutária. Em reunião anterior, o Conselho Deliberativo, convocado por seu presidente, aprovou por unanimidade o orçamento proposto por Campello para 2019.
(continua, amanhã será publicada a parte final)
Wevergton Brito Lima, jornalista
Brilhante análise.
Weverton prima pela clareza de opiniões. Aguardo, com ansiedade, a próxima parte dessa bela exposição.