Por vezes ocorre de alguém achar uma pedra preciosa em um areal. É raro, mas possível. Assim também pode acontecer com o infeliz leitor do jornal O Globo. Em um oceano de “Mervals Pereiras”, você, de vez em quando, topa com um Veríssimo. Em O Globo desta quinta-feira (14) uma feliz surpresa: a coluna do ex-jogador Paulo Cézar Caju, intitulada “Não desrespeitem o Carioca”. Caju lembra que vestiu a camisa dos quatro grandes times do Rio e ainda recorda com saudade do América de Bráulio, Ivo e Eduzinho. Defensor do futebol raiz, o ex-craque rememora a época em que o Campeonato Carioca era a grande atração e o Maracanã o seu palco principal:
“As bandeiras desfraldadas, os geraldinos, os tradicionais chefes de torcida, Jorge Curi, Waldir Amaral, Mário Vianna, os pontas endiabrados, o cachorro-quente da Geneal, as camisas sem patrocínio e os torcedores chegando de trem, a pé, para prestigiar seus ídolos.” Quem frequentou o Maraca até metade dos anos 90 sabe bem do que Caju está falando.
Sendo coerente com a defesa que faz do futebol carioca, Caju não perdoa o técnico do Flamengo, Abel Braga, por ter poupado os titulares do Fla no Clássico contra o Vasco no último sábado e também o critica duramente pela coletiva após o jogo.
Sobra até para a imprensa, pois Caju corretamente denuncia que, diante da postura “ginasial” de Abel na coletiva ao final do jogo, nenhum jornalista fez qualquer questionamento.
“Fiquei chocado com a postura de meu amigo Abel com essa história de poupar jogadores por conta de terem jogado na altitude dias antes. Peraí, antigamente dormíamos no aeroporto e estamos vivos até hoje. Não se poupam jogadores em um Flamengo x Vasco. É desrespeito com a história do futebol, com a torcida e com tudo mais! E não me venha com essa lengalenga de time B só para se preservar diante uma possível derrota.
Agora os jogadores deverão desfilar pelo clube com crachás jogador ‘A’, ‘B’, ‘C’. Vestiu a camisa do Flamengo é Flamengo. E, além do mais, o Flamengo entrou com Arrascaeta e Vitinho, os dois ‘cracaços’ mais caros da história do clube. Na coletiva, Abel teve uma postura ginasial, disse que estava ali para rir do que fizeram com o Flamengo. E os jornalistas ficaram lá, o acompanhando nas risadas, sem questioná-lo de nada. Tem que rir é do ‘Rudinei’, que perdeu aquele gol feito, e não dos dois pênaltis que existiram.”
Perfeito! Viva Paulo Cézar Caju! A torcida do “moleque travesso”, o Juventus, tradicional clube da Mooca, em São Paulo, tem um slogan: “Ódio eterno, ao futebol moderno”. É isso aí. O futebol “muderno”, das arenas climatizadas e assépticas, programa pra classe média, onde o povão assiste aos jogos do lado de fora dos estádios, vendo TV (em alguns casos só se tiver TV a Cabo ou Premiere) é o futebol do 7 x 1.
Wevergton Brito Lima, jornalista
alo vc esse realmente merece credibilidade não é puxasaco como muitos que vemos na imprensa.
Weverton está endiabrado!
Seu artigo já é esperado com ansiedade. Já estamos aguardando o próximo. Seus artigos não são, apenas, de leitura obrigatória são de leitura prazerosa.