Por que o Vasco está tão exposto aos “erros” de arbitragem e o que a próxima eleição tem a ver com isso? – Parte 2

Divulgado o trio de arbitragem para o próximo jogo do Vasco

Leia, aqui, a primeira parte deste artigo.

Bom, voltando ao tema. O Vasco, como sabem os vascaínos, muito lutou para se impor no cenário esportivo nacional. Em determinados momentos era mesmo difícil prejudicar o Vasco abertamente, tal a força do clube e a competência dos seus dirigentes, o que mesmo assim não impedia a antiga perseguição, mas mitigava.

No auge de Eurico Miranda como vice-presidente de futebol, era mais difícil prejudicar o Vasco e, diga-se o que quiser do Eurico (eu mesmo, que passei minha vida associativa do Vasco lhe fazendo oposição, já disse muita coisa), mas nenhum dos títulos que o Vasco ganhou com ele à frente foi fruto de favorecimento extra campo. Eurico usava a força política do Clube (e sua própria) para evitar que o Vasco fosse roubado.

Vamos imaginar, estimada vascaína que esteja lendo este texto, que a questão da queda do alambrado na final do Brasileirão contra o São Caetano em 2000 ocorresse hoje em dia. Na época, lembram os mais velhos, por conta de um acidente que teve ZERO feridos graves, interrompeu-se a partida e a mídia em peso exigia a interdição de São Januário e a entrega do título ao São Caetano SEM A CONTINUIDADE DA PARTIDA DECISIVA. Pois se fosse hoje em dia, alguém tem dúvida de que seria justamente isso que aconteceria?

O que nos salvou foi a força que o Vasco tinha nos bastidores para evitar este absurdo. Mesmo assim uma nova partida só foi disputada em janeiro de 2001, tal a pressão para entregar o título ao São Caetano. Lembrando que na final do Brasileiro de 1992, entre Flamengo e Botafogo, uma queda do alambrado provocou a morte de três torcedores e mais de 200 feridos foram parar nos hospitais e o jogo continuou normalmente, com a mídia mal falando nos mortos e feridos no dia seguinte (quem quiser, confira aqui), ou seja, o que o Vasco enfrenta em termos de poder midiático contrário nunca foi fácil.

Logo depois deste episódio de 2000, em fevereiro de 2001, o fim do contrato com o Bank of America, que devia ao Vasco 12 milhões de dólares, mergulhou o clube em uma grave crise financeira que deu combustível às divisões internas já muito agudas.

Enfraquecido economicamente o Vasco foi perdendo força política na medida em que também a guerra interna ganhava proporção inédita. O resultado todos conhecemos.

Em 2008 Roberto Dinamite foi eleito presidente do Vasco. Embora possam se apontar méritos, principalmente na sua primeira gestão, Dinamite, no todo, foi um presidente que não atentou para a necessidade de defender as posições do Vasco no tabuleiro político do futebol e cometeu graves erros estratégicos.

O principal deles foi atender à Globo e ao Flamengo, ajudando a acabar com o Clube dos Treze, que garantia aos principais times do país certa paridade na divisão das verbas do futebol, abrindo caminho para o atual estado de coisas, onde Flamengo e Corinthians chegam a receber 5 a 6 vezes mais do que outros clubes grandes.

Lembro até hoje de uma reunião de conselheiros do Clube com um dos próceres da gestão Dinamite, onde se anunciou que o Vasco havia assinado com a TV Globo “o melhor contrato de sua história”. Perguntei se o Flamengo iria receber valor idêntico ou superior e ele respondeu, de forma surpreendente, que “quanto o Flamengo recebe não nos interessa”. Ainda retruquei que isso era um absurdo. Usei a analogia de uma guerra para exemplificar que sempre interessa saber o poder de fogo do inimigo. A resposta que recebi foi a de que minha mentalidade era “antiquada”.

A gestão Dinamite pagou caro pelo fato de não saber defender os interesses do clube. No campeonato brasileiro de 2011, uma das maiores operações de arbitragem contra um clube foi levada a cabo, com sucessivos erros grotescos sempre prejudicando o Vasco, erros que eram no fim destinados a favorecer o Corinthians com o qual disputávamos par i passu a ponta da tabela. Tudo com o silêncio da mídia, muxoxos da gestão Dinamite e perplexidade dos vascaínos.

Dinamite saí e Eurico retorna em dezembro de 2014, mas não tinha nem a sombra do poder e influência de outrora, resultado: no Campeonato Brasileiro de 2015, no turno da volta o Vasco iniciou uma reação para fugir do rebaixamento, reação que foi tolhida mais uma vez por sucessivos erros de arbitragem. Não poderia ser de outra forma, o Vasco continuava frágil economicamente e em eterna guerra política, situação que permanece até hoje, agravada por um presidente que coloca escudo do Flamengo em nosso uniforme e vai a Brasília ser carregador de pasta do presidente rival. Ou seja, não entendeu nada do que está em jogo.

A solução é uma só: o Vasco precisa voltar a ser forte politicamente, forte esportivamente e forte economicamente. Enquanto isso não acontecer, na dúvida o apito será contra o Vasco (e às vezes até na certeza também).

Na selva do futebol brasileiro, não existe piedade para os fracos.

(amanhã, a última parte)

Wevergton Brito Lima, jornalista

 

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