São Januário: onde se aprende a amar o Vasco

Neste texto, escrito especialmente para o Pega na Geral, o jovem estudante de história, Lucas Martins Barroso, relata sua primeira ida a São Januário, e aproveita a deixa para fazer uma reflexão certeira sobre a importância do estádio na formação do torcedor. Vale a leitura.

Minha primeira vez (em São Januário!)

Fui a São Januário pela primeira vez há pouco mais de dez anos, quando tinha treze anos. Lembro bem do frio na barriga ao me aproximar da arquibancada, incendiada pelo canto da torcida. Ao meu lado, estava D.R. Almeida, editor do Pega na Geral, que já tinha ido a muitos jogos em São Januário, no Maracanã e em tantos outros estádios Brasil afora. Suas histórias relacionadas ao Vasco, a maior parte delas como testemunha presencial, consolidaram mais um coração infantil. Ele sabe a importância da ida ao estádio para o jovem torcedor.

Por Lucas Martins Barroso*

Naquele 2 de dezembro de 2007, o Vasco enfrentaria o Paraná Clube no último jogo do Campeonato Brasileiro, em uma peleja que pouco ou nada interferia nas ambições do time na competição. Por outro lado, valia a permanência da equipe do Sul na primeira divisão nacional. Com um gol de Morais e dois de Leandro Amaral, o Vasco selou o destino do adversário, curiosamente pelos dez anos seguintes, quando permaneceu na série B. O Gigante da Colina, por sua vez, terminou exatamente no meio da tabela, com 54 pontos, dois pontos a menos do que na campanha de 2017.

Mesmo com nada em disputa, a partida foi incrível para mim. Crescido distante dos estádios e acostumado com os jogos pela TV, aquilo foi como conhecer um novo esporte. Uma diferença similar àquela entre o cinema e o teatro. Lembro-me do entusiasmo de ver o jogo acontecer à minha frente, com o cenário completo: jogadores, técnicos, torcedores, todos no meu campo de visão. Ali, eu fui tão vascaíno quanto nunca antes, em uma atmosfera onde nada há de mais importante que o Vasco.

O ambiente do estádio de futebol é único. Fomos na social, em frente à festa da arquibancada. Na verdade, passamos o dia em São Januário, onde almoçamos e visitamos o salão de troféus do clube. Depois do jogo, ainda retornamos ao restaurante para assistir o primeiro descenso do Corinthians, para o qual o Vasco havia contribuído na quarta-feira anterior, ao derrotar o time paulista no Pacaembu, com o gol de Alan Kardec.

A última cartada da mercantilização do futebol é a prática dos ingressos assustadoramente caros, como forma de sustentar as novas “arenas”. O Vasco ainda não encarou o problema do tamanho de São Januário, até porque permaneceu parado no tempo desde que Eurico começou a se apoderar do clube. Dinamite, por sua vez, foi incompetente a ponto de não se valer da alta demanda gerada pela realização da Copa e das Olimpíadas, e dessa forma garantir ao menos a expansão de São Januário.

Mesmo assim, essa questão pode se tornar relevante para o Vasco nos próximos anos. A política dos altos preços de ingressos é nociva em todos os sentidos. Na prática, os custos para entrar em muitos estádios brasileiros criaram um veto aos trabalhadores, a massa da população. Imagine quantos elos entre gerações são quebrados nesse processo, afastando o jovem torcedor do futebol, em relação ao qual ele talvez se torne indiferente com o passar dos anos. O clube, por fim, termina por lesar um patrimônio valioso, ao impedir, pela exclusão, a expansão de sua própria massa de torcedores.

A bola agora está com Campello, que apesar de ter contra si a desconfiança de parte da torcida, representa sem dúvida renovação e sangue novo. Que este sangue novo traga novas ideias e também resgate algumas ideias antigas e óbvias que foram injustamente esquecidas pelas administrações passadas, como, por exemplo, valorizar o fato de sermos o único clube grande do Rio de Janeiro com estádio próprio.

Como mostra minha singela experiência pessoal, estádio é um palco importante para a formação e crescimento da torcida. Aliás, se isso não fosse verdade, por que os pioneiros construiriam São Januário em 1927?

Em 2018 nosso estádio completará 91 anos de fundação. Já passou, portanto, da hora de colocar como prioridade a expansão de São Januário e, pari passu, tratar da implementação de uma política de preços nos ingressos que permita ao trabalhador voltar a frequentar o Estádio. Se a nova administração fizer isso honrará a tradição de ousadia que marca a história do Vasco e reafirmará a verdade desta frase: “o Vasco é o verdadeiro time do povo”.

* Estudante de História da UFRJ, 23 anos

 

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