No último dia 15 de setembro eu estava em Porto Velho, capital de Rondônia. Este foi o dia em que Vasco e Flamengo disputaram a partida válida pela 25ª Rodada do Brasileirão, jogo realizado em Brasília.
Depois de uma rápida pesquisa na rede (“bar dos vascaínos em Porto Velho”), descobri que poderia assistir a partida na sede da 47ª Família da Força Jovem do Vasco. Para quem não sabe, a FJV se organiza em “Famílias”, espalhadas pelo Brasil e até pelo mundo (tem, por exemplo, a 52ª Família – Flórida, do meu amigo Leonardo).
Mas confesso que fiquei, de início, em dúvida sobre assistir de fato o jogo na sede da FJV local, ressabiado com a guerra interna que a FJV vive no Rio de Janeiro, onde o que menos parece importar é o amor ao Vasco.
Porém, decidi ir, e foi a decisão correta, pois conhecer os vascaínos de Porto Velho fez muito bem a minha alma vascaína.
Em Rondônia, a mais de 3.400 quilômetros de São Januário, o amor ao Vasco existe em estado puro.
A ampla sede da FJV, em pleno centro de Porto Velho, é totalmente climatizada. Tem telão, TV e um bar próprio.
O churrasco, no dia do jogo, começou cedo, por volta de meio-dia, mas só pude aparecer pouco antes do início da peleja, às 18hs. Mesmo com o Vasco em péssima posição na tabela, no horário de início da partida havia mais de 80 torcedores, o que nem de longe lota a sede, com capacidade para cerca de 200 pessoas.
Quando o jogo começou, o presidente da 47ª (Bruno) e o vice-presidente (Marcos) puxavam a galera como se estivéssemos em São Januário.
Quem passasse perto da sede e não fosse ligado em futebol iria pensar que o Vasco estava disputando as primeiras colocações do campeonato, tal a animação do pessoal.
Quando Martin Silva fazia uma defesa (e nem precisava ser uma defesa difícil) lá vinha o coro empolgado: “PQP / é o melhor / goleiro do Brasil”.
No intervalo, a direção da “Família” fez diversos sorteios (camisas da “Família”, etc). Tudo custeado pela rapaziada através da compra de rifas. Eu comprei três números e ganhei um Litrão de Skol, devidamente consumido no mesmo momento com meus novos amigos vascaínos.
Em frente à sede, um bar (Bar Bolívia) ostentava uma grande bandeira do Flamengo.
“Nenhum problema”, garantiram os dirigentes da “Família”, “quando chegamos aqui eles já estavam lá do outro lado com esta bandeira e buscamos um respeito mútuo”. Pausa para a cara de espanto do leitor.
O Bar Bolívia estava com pouca gente, no máximo quinze pessoas, mas mesmo assim durante todo o jogo, mesmo quando fizemos o gol, não houve qualquer provocação dirigida diretamente ao nosso vizinho rubro-negro.
Quando a partida terminou, um membro da FJV, já meio chumbado, atravessou a rua na direção do Bar Bolívia, demonstrando intenções pouco pacíficas, no que foi imediatamente trazido de volta à sede.
Os gritos de “Vasco!” e “Casaca!” ainda ecoaram durante boa parte daquela noite de sábado em Porto Velho e eu me senti um garoto de 14 anos, indo pela primeira vez ao estádio sozinho para ver o Vasco, cercado por gente com o mesmo amor puro pelo clube que movia quase todos os vascaínos daquele tempo.
Proponho urgentemente que a 47ª Família assuma o controle nacional da FJV e venha ao Rio de Janeiro ensinar os vascaínos cariocas a torcer de verdade.
Já no Rio de Janeiro…
Contrastando com o exemplo de Rondônia, ignorando o drama de nossa equipe que luta para se salvar no campeonato, no Rio de Janeiro o grupo político do senhor Júlio Brant empurra o Vasco para a beira do abismo entrando na justiça para anular as últimas eleições.
Independentemente da opinião de cada um sobre o resultado do processo eleitoral no Vasco em 2017, vamos ter a partir de agora uma nova guerra em duas etapas: guerra jurídica, com a tentativa de uma parte tentando cassar a liminar que anulou as eleições e com outra parte buscando de qualquer maneira manter a liminar. Vencida esta etapa, caso a anulação seja mantida, a nova eleição igualmente irá paralisar o Vasco por preciosos meses.
Enquanto isso, ninguém assinará contrato, patrocinará ou fará empréstimos com um clube eternamente em guerra política. Fora este aspecto, o planejamento para 2019 também será totalmente inviabilizado, pois na melhor das hipóteses a nova eleição, se ocorrer de fato, será realizada em dezembro!
Mas tudo isso, acreditem os senhores, não é por sede de poder não. É por amor ao Vasco. O que faz lembrar o título daquele antigo filme: “Amor, Estranho Amor”.
Por mim, prefiro mil vezes o amor sincero e desinteressado dos vascaínos de Porto Velho.
Wevergton Brito Lima, jornalista, conselheiro do Club de Regatas Vasco da Gama
Parabéns Amigo Wevergton.
Belo texto como sempre.
Precisamos de paz. Gostaria de saber se o Brant iria querer anular a eleição se não tivesse perdido o segundo turno…pois é. Não concordo como tudo decorreu, mas foi feito dentro das regras do estatuto do clube. Mais amor Puro para nosso Vascão. Forte abraço para o pessoa da 47 Família!
Parabéns amigo. Bom enredo.
O Vasco da Gama, das tradições , da paixão, das vitórias, contrasta muitas vezes com o atual momento. Contudo, vem o Peganageral e confirma que na chama do Vasco campeão não se apagará jamais!
Weverton, muito obrigado pelo belo depoimento!
Saudações Vascaínas!