Vasco Zumbi

A primeira lembrança que tenho de futebol em termos de Vasco da Gama foi em 1976, com dez anos de idade, vibrando com a conquista da Taça Guanabara. Nestes 47 anos de arquibancada o Vasco me presentou com algumas de minhas melhores alegrias, contudo também passamos por fases difíceis, com times abaixo da crítica e jogadores medíocres vestindo a camisa cruzmaltina.

Mas jamais havia visto um Vasco sem alma.

Em nossos piores momentos, o Vasco se agigantava pela força de sua história, de sua camisa, de sua torcida.

Não, não falo de esforço físico ou de garra. É uma coisa mais sutil.

A mística vascaína – e qualquer torcedor de minha geração que tenha sido assíduo nos jogos testemunhou isso diversas vezes – fazia com que alguns “perebas” com a camisa do Vasco tivessem repentinamente uma inspiração de gênio. Nesse instante mágico, um atleta apenas esforçado se agigantava, decidia uma partida ou até um campeonato.

Em 2019, quando o Vasco, ao contrário de homenagear as vítimas do incêndio na divisão de base do Flamengo – os pobres meninos que morreram queimados graças à incúria criminosa do clube da Gávea – homenageou os responsáveis pelas mortes, escrevi uma crônica (Cyro Aranha no Vasco x Resende) na qual os espíritos de Cyro Aranha e de outros vascaínos já falecidos compareciam ao jogo em que o Vasco entrou em campo com o escudo do Flamengo em seu uniforme.

O texto terminava assim:

“Nisso, sai o gol do Vasco. Cyro Aranha propõe: ‘Vamos embora?’. Todos se levantam. Alguém pergunta ao presidente: ‘Você virá domingo ver a final?’. Cyro Aranha não responde, mas eles entendem. O velho espírito vascaíno está ferido”.

A verdade é que nestes últimos anos o Gigante foi aos poucos se despedindo de si mesmo, com seu destino entregue a corruptos, oportunistas e aventureiros incensados pela mídia antivasco.

E, como ato final, vendeu-se o time de futebol.

Hoje, o que entra campo é uma camisa sem alma.

O que permanece é apenas um Zumbi atrapalhado, sem personalidade, vagando por aí com sua carcaça putrefata, para deboche e (pior) pena dos seus antigos inimigos.

Os vascaínos que este Zumbi alcança, se transformam. Aplaudem empate com o CRB e abanam alegremente os rabinhos para os donos do time, não importa o que aconteça.

Temos que urgentemente fazer reviver o Club de Regatas Vasco da Gama, antes que o Zumbi devore o que resta do cérebro da nova geração de vascaínos.

Wevergton Brito Lima

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